segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Hidrelétricas na Amazônia

Hidrelétricas na Amazônia: quando a razão as iluminará? A história da construção de hidrelétricas na Amazônia é uma sucessão de escândalos, um autêntico caso de polícia. Isso, numa visão de curto prazo. Em termos mais extensos, é um ato de lesa-pátria, de agressão à inteligência. De afronta à humanidade.
A Amazônia foi consagrada como província energética, do Brasil e do mundo, por abrigar metade do potencial de geração do país de fonte hidráulica. Mais de 80% da energia produzida no Brasil tem essa origem. Provavelmente nenhum país com as dimensões brasileiras tem tal dependência hidrelétrica, o que geralmente é considerado como uma enorme vantagem competitiva (mas que acarreta também repercussões negativas). Como a Amazônia abriga a maior bacia hidrográfica do planeta, nada mais natural do que de seus numerosos e caudalosos rios o Brasil - e o mundo - extraiam a energia de que precisam: a mais limpa, a mais renovável, a mais barata de todas as energias.
Mas duas características fundamentais dos rios da Amazônia impõem cautela nesse raciocínio demasiadamente lógico, mas por abstração geográfica. Em primeiro lugar, eles têm baixa declividade natural. Em segundo lugar, apresentam uma enorme diferença de volume de água entre o período de cheia e o de vazante.
Esses dois elementos constitutivos básicos dos rios amazônicos foram devidamente considerados enquanto se pensou em energia para o consumo interno da região. Pensava-se em barragens de baixa queda, construídas às proximidades das áreas de maior demanda por energia. Quando a corrente de pensamento nativa se fixou num ponto do baixo rio Tocantins (então conhecido em função das cachoeiras de Itaboca), como o local mais viável para suprir as necessidades da maior concentração humana e econômica da região, que era Belém, o máximo de aproveitamento imaginado era de 300 megawatts (ou 300 mil quilowatts).
Quando a hidrelétrica foi iniciada, em 1975, 300 MW era uma potência inferior à capacidade de uma só das turbinas que deviam ser instaladas na casa de máquinas da usina, cada uma delas de 350 MW (375 na segunda fase). Na primeira etapa, seriam 12 máquinas. A ampliação aduziria outras 11. Concluída, com 23 turbinas, a hidrelétrica terá potência quase 30 vezes acima do que os paraenses sonhavam gerar até a década de 60, atendendo plenamente o consumo de todo Estado.
O governo, portanto, optou por uma barragem de alta queda, contrariando as condições naturais do sítio geográfico, e pela transmissão da energia por grandes distâncias para os centros consumidores. Independentemente de simulações econômicas para definir a viabilidade da obra, havia uma determinação categórica prévia: a hidrelétrica tinha que atender uma demanda nova de energia, várias vezes superior ao consumo regional.
Tucuruí só começou a ser construída porque o Brasil, associado ao Japão, decidira instalar às proximidades de Belém um pólo industrial de alumínio, do tamanho de outro empreendimento que a Alcoa, a maior empresa do setor, estava montando na ilha de São Luís, no Maranhão. Na época do estudo de viabilidade da hidrelétrica de Tucuruí, a Albrás ia produzir 600 mil toneladas e a Alumar, 350 mil toneladas de metal. Juntas, necessitariam de quase 2 mil MW, quase sete vezes mais do que toda necessidade energética de todo Pará. Depois, a Albrás foi reduzida quase à metade.

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