a) A nova capa da Piauí (à esquerda) faz uma comparação
entre a Tropicália e o governo Temer. É uma capa ANTITROPICALISTA, pois
estabelece um diálogo uma intertextualidade direta com um dos discos mais
famosos da história do Brasil, o disco TROPICALIA de 1968.
O tropicalismo, tem sido muito
cobrado nas provas do ENEM, vai dialogar, também, com o MANIFESTO
ANTROPOFÁGICO, isto é, uma digestão cultural das inúmeras influências que
ajudaram no nosso processo de formação cultural. Nesse sentido, teremos uma
arte em que a palavra SINCRETISMO é a palavra de ordem. Ela vai se manifestar
não só por meio da música como também, por meio das artes plásticas, da
literatura, do cinema sempre com muita irreverência. Isso fez com que o
tropicalismo fosse mal interpretado em seu tempo. Porque durante a ditadura
militar brasileira (Anos de Chumbo), de um lado encontrava-se a música
considerada alienada (Jovem Guarda) e por outro lado estavam as músicas de
protesto, com engajamento político explícito. No meio termo encontravam-se as músicas TROPICALISTAS que não
apresentavam protesto de uma forma tão explícita, mas de uma forma totalmente
inovadora. Gerando dificuldade de interpretação por parte do público que exigia
uma decifração dos símbolos ali apresentados.
“Está
dando o que falar a capa da nova edição da
Piauí, que faz uma
‘releitura’ da Tropicália – movimento cultural brasileiro surgido no final dos
anos 60 – para apresentar o governo do presidente interino Michel Temer. Na
verdade, uma Tropicália do avesso. A arte foi inspirada na capa do disco
Tropicalia ou Panis et
Circencis, lançado em 1968”. ( por:
Alex Antunes, 5
de junho de 2016).
b) A capa à
direita (TROPICÁLIA) é uma paródia de um álbum central não só para a música do
Brasil, eu diria, mas para a cultura e mesmo o psiquismo do país:
Tropicália, ou Panis et Circensis, de 1968, do artista Rubens Gerchman e do
fotógrafo Olivier Perroy. Essa capa é meio que nossa Sgt. Peppers, dos Beatles, já
tendo sido apropriada algumas vezes.
A capa do disco foi produzida um tanto pelas circunstâncias, um tanto
como criação coletiva. Se veio a se tornar tão emblemática, é porque o período
era propício a uma certa troca telepática, quando as criatividades convergiam
numa forma de inteligência coletiva. Do mesmo modo que, no repertório
tropicalista, os arranjos orquestrais de Rogério Duprat convergiam à perfeição
com as composições, textos e interpretações de Gil, Caetano e outros. [...]
[...] A
boa paródia, claro, tem uma razão de ser; fluxos de significado que a
justificam. Penso que, se a capa da Piauí funcionou bem, é porque, querendo ou
intuitivamente, tocou num nervo aí. E tem a ver com o laboratório que o
modernismo antropofágico enxergava no Brasil, e que o tropicalismo recuperou.
Para a
antropofagia – e para o tropicalismo – a relação entre a intelectualidade
criativa e os valores éticos e estéticos populares tinha que ser dinâmica,
provocativa, profícua e não-culpada (que a frase de Oswald de Andrade, “a massa
ainda comerá biscoito fino que fabrico”, sintetiza também com desinibição). Não
é apenas um chiste: nos anos seguintes, mesmo com o exílio de Caetano e Gil, a
verve tropicalista teria um impacto mais ou menos generalizado na cultura de
massas brasileira. ( Alex Antunes, 5 de
junho de 2016).
Para entender melhor:
CAPA DA REVISTA TROPICALIA
- O casal à direita da segunda capa ilustrada por Gal Costa e
Torquato Neto,
representa o inferno do casal classe média, evidenciado pela bolsa de água na
cabeça de Neto. Logo acima dele, encontra-se Tom Zé (um músico em plena
atividade atualmente). Ele vai representar o retirante evidenciado pela mala que
carrega. À esquerda da capa, temos o maestro Rogério Duprat ( mentor dos
artistas tropicalistas). Segurando um penico fazendo alusão às VANGUARDAS
EUROPEIAS do início do século XX.
Como por exemplo, o dadaísta
Marcel Duchamp, que
enviou um pinico para o museu, evidenciando o total desprezo pela classe mais
conservadora.
|
Marcel Duchamp |
Centralizados na parte mais superiora do disco, nós temos os
mutantes segurando guitarras elétricas, como símbolo da modernidade urbana
daqueles tempos. É importante salientar que a guitarra também representa um
símbolo de transgressão.
Mais abaixo, nós temos o Caetano Veloso segurando um pôster
gigante da Nara Leão, musa da bossa-nova que era um ritmo cultuado pelos
tropicalistas. Na parte inferior da capa do disco, mais centralizado, temos
Gilberto Gil com roupas que aludem à cultura africana. Gil segura um retrato do
poeta Capinan, um poeta negro, assim como Gil. Ao fundo temos um cenário
composto por palmeiras e estampas florestais reforçando um contexto de país tropical.
CAPA DA REVISTA PIAUÍ
Faz uma relação com o atual cenário da política brasileira,
na capa composta pelos atuais ministros do ministério do presidente interino
Michel Temer, percebe-se uma ausência completa de figuras femininas,
diferentemente da capa do disco tropicalismo. A única referência do sexo
feminino se dá por meio de uma boneca inflável que, via de regra, pode
significar a objetificação da mulher. Nota-se, também, que entre os ministros
não há nenhum negro, o que pode significar ausência de representatividade de
minorias nesse governo.
Temos o ministro da fazenda Henrique Meirelles ao lado de uma
boneca inflável, reparem que o ministro também encontra-se com uma bolsa de água
em cima da cabeça, já que suas preocupações são grandes tendo em vista as
dívidas que o Estado apresenta. A boneca inflável também pode significar a
promiscuidade da política brasileira atual.
Mais acima, o ministro do planejamento Romero Jucá, que se
encontra com um boton de licenciado, sendo que a mala que ele carrega traz uma
nova conotação nesse cenário político, ou seja, onde o dinheiro público poderia
estar sendo ocultado. No lado esquerdo temos o ministro José Serra, também
segurando um pinico, representando a sujeira que cerca a atual política
brasileira.
No centro e na parte superior da revista nós temos os
ministros Geddel Vieira
Lima e Eliseu Padilha, reparem que ao invés de guitarras eles estão
segurando lanças com flâmulas onde as palavras ordem e progresso se encontram.
Mesmo lema contido na bandeira nacional que é um lema de ordem positivista.
Mas será que esse progresso não está gerando uma onda de
retrocessos? Percebam que as cores das flâmulas aludem um contexto medieval,
pois são de cor vermelha. No passado a cor vermelha era usada por classes
sociais muito elevadas porque era muito caro tingir tecidos de vermelho.
Um pouco mais abaixo temos a figura do ministro Moreira
Franco, homem de confiança do presidente Michel Temer e um político que o
ajudou muito a compor o seu ministério. Segura um pato que foi símbolo das
campanhas pró- impeachment, financiado pela FIESP (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo).
No centro, mais abaixo temos Michel Temer, segurando um
quadro com a foto do presidente da câmara dos deputados Eduardo Cunha, afastado
por possíveis atos de corrupção.
Para
fixar:
A ilustração utilizada na capa da revista Piauí propõe um
diálogo direto com a fotografia que estampa a capa do disco tropicalista
Tropicália ou Panis et circenses.
Sobre essa intertextualidade, é possível afirmar que se trata
de uma paródia.
Fontes:
Arte/refer (adaptado)_ Descomplica/ (adaptado)_
ESTADÃO Cultura (adaptado)