Queridos (as) alunos (as), nos últimos meses, várias manifestações invadiram as ruas do Brasil, com ampla repercussão na mídia local e mundial. O chamado
Outono Brasileiro, em que a maioria das manifestações ocorreram a partir de mensagens espalhadas nas redes sociais (território líquido), o que provocou a reunião de um grande número de pessoas de forma rápida nas ruas, assim como, ocorreu na
Primavera Árabe, em que milhares de jovens (geração y), que nasceram em meio a internet, fizeram parte dessas manifestações.
Mas qual o papel da internet nessa comoção de pessoas, formando um coro de reivindicações?
É a internet responsável pela liberação de ideias e anseios democráticos?
A internet, é na verdade, uma espécie de ícone da liberdade, pois não existe nenhum governo central. Não é possível percebê-la na sua plenitude.
Há manifestação de preocupação por parte dos Estados totalitários, em relação à internet, e já existe um controle oficioso do que é transmitido por e-mails e redes sociais. Recentemente, a Europa e os Estados Unidos admitiram, publicamente, que espionam a rede, tentando identificar nela a circulação de algumas palavras -chave. Nesse sentido, já há países oferecendo serviço de e-mail gratuito (uma forma de atrair usuários para a rede) e, assim, poder controlar o que as pessoas andam dizendo. Tudo isso é justificado em nome da segurança.
O controle da internet já ocorre há algum tempo. Em 2000 foi criado o portal do yahoo, por dois estudantes da Universidade de Stanford, Jerry Yang e David Filo. Os criadores do portal do yahoo foram processados na França por promover, através de seu portal, a comercialização de bonés, capacetes e uniformes com a suástica nazista. Houve um escândalo, pois a legislação francesa proíbe, terminantemente, a venda de qualquer produto ligado direta ou indiretamente, ao nazismo.
Yang alegou que seu portal não estava subordinado à lei francesa, pois estava sediado nos EUA. Como restringir o acesso a um portal que poderia estar em qualquer outro país além da França e dos EUA?
Essa história teve, no entanto, um desfecho paradoxal. Depois de ter vários sites bloqueados, a receita do yahoo caiu vertiginosamente, o que o levou a mudar sua sede para a China. Contudo o governo chinês impôs como condição para sua operação a colaboração com a censura política chinesa. O Yahoo passou a censurar resultados de buscas, controlar as conversas em salas de bate-papo e filtrar palavras e e-mails e em arquivos anexados; uma total inversão de seu princípio de que a internet deveria ser livre.
Nenhum país gosta da liberdade na internet, pois as redes sociais permitem um tipo de agrupamento entre as pessoas. As redes são um estado paralelo e, enquanto houver liberdade na internet, elas serão consideradas uma ameaça ao modo tradicional de organização dos países (nações), dos partidos políticos e das instituições. A internet é incontrolável por isso não deve ser abordada apenas do ponto de vista político, mas, também, como um problema ético que pode nos levar a diversos dilemas.
Um argumento típico em defesa do controle da internet são os sites de pornografia e, em especial, os de pedofilia. sera´que eles devem ser controlados por algum tipo de agência governamental que os remova constantemente da internet?
Sites pornográficos são, normalmente, bloqueados pelos pais de adolescentes, tanto na televisão como na internet. Mas é praticamente impossível bloquear todos os sites. Há também a circulação de instruções para a construção de bombas. Tentar restringir a circulação desses sites seria o mesmo que interferir nos assuntos internos de outros países, algo que, no mínimo, causaria uma crise diplomática.
O que precisamos, na verdade, é uma ética da informação em âmbito mundial.
FONTES: Filosofia da Mente (revista: Filosofia- anoVII Nº 85 agosto 2013)/ Filosofia- Construindo o Pensar- Dora Incontri e Alessandro Cesar Bigheto.