OUTONO BRASILEIRO
Queridos (as) alunos (as), em 2010 assistimos a Primavera Árabe e agora chegou a vez do Brasil
com o Outono Brasileiro. Em véspera de Copa do mundo, nada mais inoportuno para
a cúpula do governo, do que assistir a esse cenário de manifestações e demonstrações
de descontentamento com a política governamental, no que se refere às necessidades
básicas da população, como por exemplo, a demanda por educação, transporte,
saúde e segurança.
O Outono Brasileiro tem
em comum com a Primavera Árabe, o descaso do governo em relação aos direitos
fundamentais da população em geral. Nesse sentido, ganham destaque na mídia
mundial.
As pesquisas indicam que 80% dos participantes nas
manifestações não têm identificação partidária, compatível com os resultados
das pesquisas nacionais onde somente 20% apresentam identificação com partidos
políticos.
Ou seja: temos nas manifestações
uma amostra então crescente e representativa da população brasileira, onde 75%
apoiam as manifestações. Estatisticamente, 1 milhão de pessoas representa uma
amostra com margem de erro de 1/10 de 1% para o total da população de 190
milhões no pais, como movimento geral.
Na literatura das ciências sociais, alguns
autores indicam que os problemas nascem na economia, se generalizam no social e
se transformam no político.
No Brasil, a origem das manifestações tem
por causa principal o crescimento da inflação e a falta de serviços públicos
minimamente adequados na saúde, educação e transporte, contrastados com os
gastos para a Copa, como denominador comum dos recentes problemas sociais.
Após uma década de controle da inflação e
de políticas bem sucedidas na implantação de programas sociais e da política de
crédito, temos hoje por quase dois anos o crescimento do PIB em aproximadamente
1% e inflação de 6% anuais, totalizando a diminuição em cerca de 10% do poder
de compra, com a crise econômica corroendo os salários, retornando parte do
eleitorado à linha de pobreza.
Nas pesquisas, saúde, educação, segurança,
transporte e corrupção são apontados como os principais problemas,
observando-se o cansaço em relação à falta de políticas públicas e a questões
de ética.
Em grupos de discussão, os gastos com a
Copa são fortemente criticados por todas as classes sociais, gerando a
dicotomia entre o espetáculo do primeiro mundo e a ausência de políticas
públicas.
A recente queda de popularidade de Dilma
Rousseff abaixo dos níveis que garantem a reeleição é um indicador político da
variabilidade do eleitorado.
É certo que o novo movimento social
brasileiro, que poderá vir a se organizar na forma de representação da
cidadania, atinge os três níveis de poder, com contornos específicos em cada
manifestação, como mostram a tomada do teto do Congresso Nacional em Brasília,
os ataques à Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro, e a tentativa de invasão
da Prefeitura em São Paulo.
Mas é o Governo Federal, a instituição
executiva responsável e capaz de promover os grandes programas de transformação
social, a depositária última das manifestações sociais.
Nas Eleições Presidenciais de 2010, Dilma
obteve 35% dos votos do total do eleitorado no 1º turno, Serra 24%, e Marina
14%, com 25% de abstenção, brancos e nulos.
No 2º turno, Dilma obteve 41% dos votos no
total do eleitorado, e Serra 32%, com 27% de abstenção, bancos e nulos. Em
votos válidos, Dilma obteve 56% e Serra 44%, com margem de 6% do eleitorado
decidindo as eleições.
Em pesquisa com os participantes do
movimento em São Paulo, Joaquim Barbosa obtém 30% das preferências, Marina 20%,
Dilma 10%, Aécio 5%, e Eduardo Campos 1%.
Com o movimento social, o voto da esperança
no PT perde sua intensidade.
O Outono Brasileiro terá consequências nas
eleições presidenciais de 2014. Embora com críticas à classe política em geral,
o movimento social espontâneo contra o status quo terá nas oposições, como
formas institucionalizadas de voto, os maiores catalisadores do
descontentamento, com resultados imprevisíveis no momento.
Fonte: Ricardo Guedes, Ph.D.
em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é diretor-presidente do
Instituto de Pesquisa Sensus. -Adaptado.