sábado, 18 de junho de 2022

O conceito de Rugosidade Espacial (revisita à obra de Milton Santos)

Como consta no título desse post, será feito aqui uma revisita à obra "A Natureza do Espaço", do ilustríssimo geógrafo crítico Milton Santos, para que seja possível o seu entendimento acerca do conceito de Rugosidade Espacial. E aí, curtiu!? Segue o texto! 

Sendo uma ciência em permanente transformação, a Geografia vem buscando avançar na lapidação de seus objetos e objetivos. No curso deste processo, muitos autores e autoras contribuíram para seu avanço, entre eles, destaca-se o geógrafo brasileiro Milton Santos, conceituado pensador de questões fundamentais desta disciplina e/ou ciência, como a determinação precisa do objeto de estudo da Geografia, sua epistemologia e também a definição de espaço geográfico. 

Para ele, a Geografia deve ocupar-se da análise dos sistemas de objetos e sistemas de ações, que são inseparavelmente aliados ao tempo e compõem o espaço geográfico que é o objeto de estudo da ciência geográfica. Sua principal ferramenta metodológica é o estudo da técnica. 

A técnica registra no espaço seus diferentes momentos e está embutida no trabalho humano realizado, permitindo a reconstituição de seu processo formador. 

Assim, a noção de rugosidade assume papel importante, pois auxilia na identificação das técnicas e conjunturas sociais de tempos precedentes. Nas próprias palavras de Milton Santos, "chamemos de rugosidade ao que fica do passado como forma, espaço construído, paisagem, o que resta do processo de supressão, acumulação, superposição, com que as coisas se substituem e acumulam em todos os lugares". 

Em outras palavras, entende-se por rugosidade como sendo um objeto geográfico que persiste na paisagem como algo arcaico, como uma herança do passado. E, tanto sua obsolescência, quanto sua existência, ou sua permanência, se devem a fatores de natureza técnica e geográfica. As rugosidades impõem, então, um processo de inércia espacial

Uma outra conceituação assinala que o termo "rugosidade" refere-se aquelas formas espaciais do passado que, por algum motivo, duraram mais do que as relações sociais que as produziram, acabando, assim, como uma “herança” para a sociedade do presente e do futuro, as quais estabelecerão uma nova relação com essa forma espacial do passado, alterando, muitas vezes, a sua função.

Em resumo, as rugosidades, estabelecidas espacialmente (aí o nome de Rugosidade Espacial), são as feições moldadas num tempo anterior e que se mantém impondo às ações atuais suas possibilidades enquanto construções espaciais, sendo, portanto, válida a analogia às rugas dos seres humanos as quais denotam o envelhecimento da pele. Cada dobra da ruga "reflete" uma experiência que fora sido vivida em tempos passados, e assim é que, também, as formas espaciais pretéritas cristalizam-se na paisagem geográfica. 

Ideia esta que pode ser sintetizada na afirmação do geógrafo que revisitamos à sua obra neste post em que ele afirma que "o espaço geográfico é uma acumulação desigual de tempos". 

Rugas na pele Vs Rugosidade Espacial (Milton Santos) - Copyright © 2022, Instagram @geography.planet (Por Vitor Colleto). Todos os direitos reservados.

Referência do post: 

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 4. Ed 7ª reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. 

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